A primeira semana de retomada dos trabalhos no Congresso foi de ebulição no 14º andar do Senado, que abriga o gabinete de Tasso Jereissati. Audiências que se prolongavam, telefones que não paravam de tocar, senadores dando incerta para tentar falar com o colega, e um sem fim de demandas de almoços, jantares e pedidos para prestigiar a posse dos novos ocupantes das comissões da Casa.
Numa casa oxigenada pela maior renovação desde a redemocratização do país, em que mais da metade dos integrantes são novos no cargo, o frenesi e as altas expectativas são palpáveis, e o senador cearense poderia ter a pecha de ‘velha política’.
Mas a eleição de Davi Alcolumbre (DEM/AP) à presidência do Senado catapultou o tucano à posição de um dos principais conselheiros do senador de primeiro mandato. A derrota de Renan Calheiros teve as digitais de Tasso, que polarizou a disputa com o alagoano até abrir mão da própria candidatura para apoiar Alcolumbre, em nome da renovação.
Ontem, Alcolumbre almoçou no gabinete do cearense com um grupo de senadores que Tasso carinhosamente chama de “anciões”. São senadores experientes, de seis partidos diferentes (inclusive um do PT), animados com a renovação na casa e dispostos ao diálogo. Um encontro que deve se repetir com alguma freqüência. Após o almoço, o novo presidente e o senador cearense ainda ficaram mais de 40 minutos conversando a sós.
No dia anterior, Tasso recebeu por mais de uma hora o presidente-indicado do Banco Central, Roberto Campos Neto, e seus novos diretores, que precisam do aval do Senado. Saíram com a data da sabatina marcada para 26 de fevereiro.
Tasso esteve à frente da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) até o final da legislatura passada, mas desta vez não quis o comando de nenhuma comissão. Ainda assim, deve ficar à frente da comissão especial que acompanhará as discussões da reforma da previdência na Câmara. Foi um convite de Alcolumbre com o vistas a agilizar os debates no Senado. “Há uma consciência da urgência bastante nítida aqui no Senado”.
Tasso falou com o Brazil Journal sobre o que o mercado e a sociedade podem esperar do Senado.
O senhor vê o novo Senado focado nas pautas econômicas?
Eu acho que o clima no Senado ao redor da reforma da previdência é extremamente favorável. Evidente que, como se diz, o diabo mora nos detalhes. O problema é quando vêm os detalhes, vêm as resistências corporativas, o que sempre vai existir. Mas o clima é favorável e existe uma conscientização de que a reforma é necessária e urgente. Isso eu digo que é 50% do caminho andado. Os detalhes vão vir aí, porque cada um tem uma opinião diferente. Não é um tema fácil em nenhum lugar do mundo, mas eu acho que se criou aqui, dentro da dificuldade que se discute isso há muitos anos, em que já se esteve à beira da aprovação o governo Fernando Henrique e depois agora no governo Temer, já existem já muitos obstáculos ultrapassados. Porque isso já foi tabu, não é mais tabu.
Para a população não é mais tabu?
Não, não é mais.
O senhor vê isso em todos os partidos aqui no Senado?
Não é mais (tabu). Acho que até o PT tem essa consciência. Evidente que a reforma que o PT prega é bem diferente daquela que deve vir por aí. Apesar de que na verdade eu ainda não sei qual é a proposta que vai vir do governo.
Assusta o fato de o governo parecer ainda não estar organizado?
Existe a preocupação não só em relação a isso, mas em relação a muita coisa. A sensação do bate-cabeça entre eles. Mas pelo que eu ouço falar recentemente, a reforma está pronta e esperando só a bênção do Bolsonaro.
Como o senhor mesmo falou, o diabo mora nos detalhes. Há uma grande diferença de impacto nas propostas de idade mínima que circulam, ou regra de transição, por exemplo.
Eu espero que isso não seja uma novidade. O texto que está aí imagino que já tenha sido repassado ponto a ponto, em especial naqueles pontos que ele (presidente) possa ter de discordância. Que haja um ajuste aqui e ali, espero que seja mais só a bênção (de Bolsonaro) que falte.
Na sua visão seria melhor, para ganhar tempo, ficar com o texto que o governo Temer mandou?
Para ganhar tempo sim, não tem a menor dúvida. Agora, se vier um texto muito melhor, vale a pena segurar três meses, porque também, segundo diz o presidente Rodrigo Maia, lá também existe esta disposição e ele está só esperando receber a proposta. Então já existe um treino feito com a proposta do Temer e agora é o jogo. Está todo mundo pronto para entrar em campo.
É realista o prazo de se aprovar a nova previdência ainda no primeiro semestre?
Quem falou em até maio foi o Rodrigo (Maia), e ele conhece muito bem o funcionamento daquela casa. Evidente que é uma visão otimista, mas não é totalmente irrealista, porque ele tem aquilo ali na palma da mão. Dois meses aqui (no Senado) também não é impossível. É otimista, mas também não é impossível. Eu diria que existe, com quem eu converso, (uma vontade) de terminar esta novela antes do (fim do) primeiro semestre. O ideal é que se terminasse esta novela antes do fim do primeiro semestre e a gente começasse a tratar de outros temas importantes que vão vir por aí.
O senhor optou por não presidir comissões do Senado. Por quê?
Tem muita gente nova aqui, boa parte chegando com muita sede de participar de tudo, de ser protagonista, de mostrar serviço. O que é louvável. E a gente precisa de um pouco de comedimento para dar espaço para todo mundo, até pela experiência. Eu já fui governador, senador, então é preciso dar um pouco de espaço que naturalmente outras coisas vão aparecer pra gente fazer.Uma ideia do presidente David é fazer uma comissão especial de acompanhamento da tramitação da previdência na Câmara para que a gente possa, paralelamente, ir debatendo aqui o que se está debatendo na Câmara. É uma ideia que ele teve e me propôs, mas ainda não está formalizada, até porque a gente precisa deixar que venha a proposta do governo, porque não sabemos como ela vem, se é PEC, Projeto de Lei, ou parte PEC e parte PL.
Quando chegar a proposta na Câmara vamos sentar aqui no Senado e formalizar como fazer isso. O intuito é ganhar tempo. Você pergunta se é possível (aprovar no Senado) em dois meses. Esta é uma tentativa para não se ficar esperando todo o andar da Câmara e a gente ficar ausente da discussão, começando os debates só quando o texto chegar aqui. É uma forma da gente fazer os debates aqui em paralelo, para ganhar tempo. Você vê que há uma consciência da urgência bastante nítida aqui no Senado.
O senhor acha que algum ponto específico na proposta de reforma da Previdência terá mais resistência?
Idade mínima de 65 anos, por exemplo, passa no Congresso?Eu não sei dizer. Mas é clara e geral esta conscientização da necessidade da reforma da previdência. Se você lembrar do período do Temer, você tinha todo aquele grupo do PT negando a existência de déficit da previdência. Não vejo mais ninguém falando nisso.
O senhor é um dos senadores mais experientes da casa, acha que a inexperiência do senador Alcolumbre, que está no primeiro mandato, nunca comandou uma comissão da Casa, pode atrapalhar o andamento das reformas?
Não, pelo contrário. Acho que ele já está surpreendendo. É um rapaz extremamente inteligente, muito hábil. Depois daqueles dois dias de batalha campal, quem montou mesa e comissões — de maneira que hoje tudo está inteiramente pacificado — tem que ter uma habilidade muito grande. Ele tem mostrado esta habilidade e abertura. É um novo momento, para melhor sem dúvida, que o senado está vivendo.
O senhor teve a iniciativa de reunir o “grupo de anciões” do Senado para auxiliar o novo presidente?
Eu chamo carinhosamente de “almoço dos anciões”. São senadores de vários partidos, grupo que pode crescer, e a ideia é fazer um diálogo entre a turma que tem mais experiência, mais moderada e que tem uma posição bastante clara de dialogar, com o presidente do Senado, para ser um ponto de apoio em situações críticas de mais exaltação. O presidente David também trouxe uma proposta de reforma do regimento, que é muito antigo e tem muitos pontos ultrapassados. O David vai promover isso na estrutura administrativa do Senado.
As indefinições do governo no Senado preocupam?
O problema é que o governo não é uno. Tem vários núcleos e eles não têm entendimento entre si. Não há liderança clara ainda no Senado. Em segundo lugar, existe uma batalha interna sobre quem representa adequadamente o governo. Dentro do Senado esta briga é aberta.
Fonte: https://braziljournal.com/tasso-jereissati-a-ponte-entre-a-velha-e-a-nova-politica