Tasso Jereissati (PSDB-CE) fez, nesta terça-feira (6), seu discurso de despedida do Senado. O parlamentar, cujo mandato se encerra no início de 2023, não se candidatou a nenhum cargo nas últimas eleições. No pronunciamento, ele fez uma retrospectiva de seu mandato e disse sobre o que espera do futuro do Brasil.
O senador lembrou de seu primeiro discurso na tribuna da Casa, em 2003, quando também comentou sobre o que esperava do futuro — com o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora reeleito para o terceiro mandato. O primeiro mandato de Tasso no Senado foi de 2003 a 2011. E o segundo mandato, iniciado em 2015, é o que se encerra agora.
— Naquele momento, pensava eu, consolidava-se a democracia no Brasil: um operário, sindicalista e nordestino, assumia a Presidência da República em clima de paz, de festa, sem que tivesse havido qualquer percalço. Quis o destino que essa minha despedida do Senado Federal fosse exatamente no momento em que Lula retorna ao poder, agora, após uma das eleições mais conturbadas da nossa história, em que não faltaram ataques à própria democracia.
Para Tasso, as últimas eleições trazem o alerta de que é preciso atenção contra ameaças autoritárias, ainda que surjam e se camuflem por dentro do próprio sistema democrático. O senador classificou a democracia como bem mais precioso da sociedade brasileira.
O senador também fez uma retrospectiva da sua atuação no Senado. Ele disse ter feito, nos seus anos de atuação na Casa, mais do que colegas, amigos.
— Aqui muito aprendi ao conviver com pessoas extraordinárias e completamente diferentes entre si em termos de história de vida, experiência, origem e pensamento. Ouvir, aprender e debater com esses homens e mulheres tão diversos, buscar entender as suas razões e argumentos me fez uma pessoa muito melhor; ensinamentos que carregarei comigo por toda a minha vida — declarou, emocionado.
Ele disse ter buscado, em sua atuação parlamentar, garantir uma ação pública eficiente, eficaz e efetiva, fundamental para que as funções estatais de regulação e prestação de serviço se alinhassem com os objetivos da República. Para ele, o ritmo do processo legislativo e o tempo para decisões não pertencem aos parlamentares, que precisam ter humildade para reconhecer limitações e confiar no espírito público dos pares.
Entre as matérias das quais foi relator, Tasso destacou a Lei das Estatais, o Marco Legal do Saneamento e a Reforma da Previdência de 2019. Ele também citou projetos dos quais é autor, em temas como a regulação do mercado de crédito de carbono, o benefício universal infantil, a Lei de Responsabilidade Social, os contratos de impacto social, o mercado de águas, a avaliação de políticas públicas e subsídios e a sustentabilidade social.
Para o senador, o Congresso que tomará posse no ano que vem terá imensos desafios a enfrentar, em um cenário internacional de incertezas, com o mundo se recuperando de choques de oferta e demanda causados pela pandemia, com a preocupação com energia, com pressões inflacionárias sobre os alimentos e com o conflito entre Rússia e Ucrânia.
— Não bastasse tal conturbado cenário, o Brasil tem suas próprias guerras a enfrentar, contra a fome, contra a miséria e contra a desigualdade, tudo isso sem descuidar da sustentabilidade das finanças públicas, origem e fim do desenvolvimento por meio de políticas públicas. Insisto: sem política fiscal, não há política social! — afirmou.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi o primeiro a homenagear o colega, de quem destacou a decência, o equilíbrio e a sensatez. Para Pacheco, essas qualidades foram demonstradas ao longo de toda a vida pública de Tasso — que também foi governador do Ceará por dois mandatos. Pacheco disse esperar que este não seja o encerramento do ciclo político do senador.
— É alguém sempre pronto a uma palavra lúcida, ponderada e com o objetivo de dar solução aos grandes temas nacionais. Foi assim quando contribuiu decisivamente para o projeto de saneamento no Brasil e foi assim quando proporcionou uma reforma da Previdência absolutamente necessária para o nosso país, de modo que este Senado, o povo cearense e o povo brasileiro haverão de reconhecer, senador Tasso Jereissati, a sua grande importância — declarou Pacheco.
A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) afirmou que nada do que fosse dito estaria à altura do colega. Ela classificou Tasso Jereissati como uma grande inspiração e destacou, entre suas qualidades, o bom senso, a inteligência e a sensibilidade. Ela, assim como Pacheco, lembrou a luta do senador por condições melhores de saneamento básico no Brasil.
— Se hoje o nosso país tem como meta a universalização de água e esgoto é porque o nosso colega Tasso se debruçou muito sobre a questão. E quem pensa no que é base é porque pensa no todo e sabe que não se pode crescer sem deixar de olhar para a base social, os brasileiros mais vulneráveis — ressaltou Mara.
A defesa da responsabilidade fiscal, citada no pronunciamento de Tasso e que fez parte do discurso do senador ao longo de todo o seu tempo no Senado, foi lembrada por vários colegas nas homenagens da despedida.
— Vossa Excelência sempre foi uma referência. E deixou marcas na gestão pública, na responsabilidade fiscal. Talvez tenha sido um dos primeiros no Ceará a fazer uma grande transformação. A grande mudança na gestão pública começou no Ceará, com Vossa Excelência, que para nós é uma referência na gestão — destacou Izalci Lucas (PSDB-DF).
Flávio Arns (Podemos-PR) lembrou da fala de Tasso Jereissati na discussão da PEC da Transição, na tarde desta terça-feira, ao apontar para a necessidade de equilíbrio entre reponsabilidade social e fiscal, além de pedir um esforço pela governabilidade.
— Uma pessoa educada, sensível, solidária, do diálogo, do entendimento, da escuta, de construir soluções. Eu quero que isso fique muito claro no sentido de reconhecimento dessas qualidades pessoais tão necessárias no Senado e no Brasil nos dias de hoje. Escutar, dialogar, construir caminhos, achar soluções; isso é essencial e a gente aprendeu muito com a sua personalidade.
Para Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) fica marcada pela atuação de Tasso em temas cruciais como a reforma da Previdência.
— A reforma da Previdência, que abriu espaço para a sustentabilidade fiscal do nosso país, teve no relatório de Tasso, na sua condução, o equilíbrio exato entre o compromisso social e a responsabilidade fiscal. A Comissão de Assuntos Econômicos está marcada pelo vosso trabalho — ressaltou Bezerra.
Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que Tasso Jereissati será lembrado para sempre ao lado de homens públicos como Ruy Barbosa, Juscelino Kubistchek, Teotônio Vilela e Afonso Arinos. Ela lembrou que o fato de o Senado ter, pela primeira vez, uma mulher na presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) se deve a ele, que abriu mão da vaga.
— A sua voz, tão calma, me inspira paz, mas a sua conduta sempre foi um grito retumbante nos meus ouvidos, me estimulando a ter coragem de defender os meus princípios e também estar do lado certo da história — declarou Simone.
A Senadora Rose de Freitas (MDB-ES) apontou entre as qualidades do colega, a ética, a moralidade e a capacidade de diálogo. Ela o definiu como um exemplo para o Brasil.
— Se na política cabe amor, eu te amo como um instrumento político do Brasil, que eu acredito que já esteve sob sua égide no Ceará e que teve sua permanência nos grandes debates desta Casa. Muito obrigado por ser meu amigo, conselheiro e por ser instrumento da verdadeira política que o país tem que ter — disse Rose, emocionada.
Otto Alencar (PSD-BA) frisou que Tasso Jereissati demonstrou, ao longo da sua vida pública, todas as qualidades e virtudes que deixa como exemplo no Senado. Também afirmou que se houvesse, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, uma academia brasileira de bons políticos, honrados, sérios e competentes, Tasso faria parte dela.
Alessandro Vieira (PSDB-SE), por sua vez, agradeceu ao colega não só como senador, mas como brasileiro. Para ele, o senado fica menor com a saída de Tasso.
— Quem constrói a instituição, quem dá relevo para o Senado, são os senadores e as senadoras, esse acúmulo de histórias. Então, há de se reconhecer que hoje o Senado fica menor. Não por nenhum demérito de quem chega em seu lugar, mais adiante, em fevereiro, mas porque o acúmulo de experiências levará muito tempo para chegar próximo disso, sob o ponto de vista de qualidade técnica, da capacidade de articulação e dedicação ao serviço público — declarou Alessandro.
Também homenagearam Tasso Jereissati em apartes os senadores Eliziane Gama (Cidadania-MA), Plínio Valério (PSDB-AM), Marcelo Castro (MDB-PI), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Confúcio Moura (MDB-RO), Carlos Portinho (PL-RJ), Esperidião Amin (PP-SC), Soraya Thronicke (União-MS), Rodrigo Cunha (União-AL), Paulo Paim (PT-RS) e Chico Rodrigues (União-RR).
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)