O senador e ex-governador do Ceará vê no governador gaúcho uma alternativa ao radicalismo instalado no país
Por JULIANA BUBLITZ
Presidente do PSDB por duas vezes e um dos responsáveis pela consolidação da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República em meados da década de 1990, o senador Tasso Jereissati não esconde o entusiasmo em relação ao futuro político de Eduardo Leite. Aos 72 anos, o ex-governador do Ceará vê no governador gaúcho um nome promissor no cenário nacional e uma alternativa real ao radicalismo instalado no país. Acompanha de perto a carreira do pupilo desde os tempos em que Leite foi prefeito de Pelotas e diz que ele é “exemplo para toda a nova geração de políticos”.
Por telefone, desde Fortaleza, Jereissati conversou com GZH sobre a possibilidade de Leite concorrer ao Palácio do Planalto, falou sobre o PSDB, classificou como “desastroso” o governo de Jair Bolsonaro e disse que o Brasil precisa de “união”. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.
Como o senhor avalia o movimento encabeçado por Eduardo Leite?
Vejo com muito bons olhos. E esse movimento não se restringe ao Rio Grande do Sul. Começou em Brasília, com alguns parlamentares vislumbrando no Eduardo a candidatura dele à Presidência da República em função da vida e da carreira dele, que hoje é muito comentada no Brasil inteiro.
O senhor apoia a possível candidatura de Leite à Presidência da República?
Ainda é cedo para definir quem vai ser o candidato do PSDB. As ideias vão ser lançadas, e eu tenho defendido que, mais do que nunca, a gente busque princípios e afinidades para sair definitivamente dessa polarização, que só tem gerado ódio e desunião. A partir daí, vamos discutir quem será escolhido. Agora, não tenho a menor dúvida de que um desses nomes pode e deve ser o do governador Eduardo Leite. Acompanho o Eduardo há muito tempo, desde que se lançou candidato a prefeito. Conheço bem a carreira dele. É um exemplo para toda a nova geração de políticos.
Já conversou com Leite sobre essa nova etapa?
Ainda não. Espero dias mais calmos aqui para oportunamente conversar com ele, mas o Eduardo sabe do meu entusiasmo pela carreira dele. Sigo ele há muito tempo e há muito tempo eu digo a ele: se prepare para voos mais altos.
Ele tem plena consciência disso.
Leite ainda é pouco conhecido fora do Sul e do Sudeste. Tem chance de vingar?
Ele hoje já é muito conhecido no meio político e entre as pessoas que acompanham a política. Nesses grupos, posso dizer que tem uma imagem excelente. Agora, é claro que ele não é conhecido, ainda, da massa, da maior parte da população. Evidentemente, tem um longo caminho pela frente e, no momento certo, ele tem tudo para atingir esse objetivo. É o tipo da liderança política que chega agradando. Até na campanha a governador, que eu acompanhei de perto, ele começou lá embaixo. Na maioria dos municípios, ele não era tão conhecido. E ele foi crescendo, até chegar onde chegou. Tem toda a chance de repetir o mesmo no Brasil.
O que faz de Eduardo Leite praticamente uma referência é que ele consegue reunir vários predicados difíceis de reunir em um político só. Tem habilidade para somar
TASSO JEREISSATI
Muito desse movimento é fruto do descontentamento de deputados do PSDB com o governador de São Paulo, João Doria. O que o senhor pensa disso?
Não, de jeito nenhum. Não acho que seja uma coisa contra o Doria, ao contrário. É algo que alarga o horizonte do partido. É muito bom que o partido tenha mais de um candidato. O governador de São Paulo, por si só, já se torna presidenciável. Mas o partido não pode ficar preso a um nome. O partido pode ter alternativas de qualidade que tenham chance e que, principalmente, tenham a bandeira que o Brasil precisa neste momento: sair dessa gestão desastrosa. Precisamos de alternativas que possam dar tranquilidade e estabilidade no país.
Então o senhor não vê racha no PSDB?
Não, eu acho normal. Acho bom. Se partirmos para uma prévia, então, melhor ainda.
Alguns políticos têm defendido a necessidade de formar um bloco de centro democrático para disputar as eleições em 2022. O senhor acredita nisso?
Torço para isso. Temos de nos livrar do extremismo de direita e do extremismo de esquerda e desse confronto de ódios e irracionalidade. E temos de sair para um governo equilibrado, com bom senso, de diálogo e que tenha políticas públicas racionais e definidas.
O PSDB aceitaria a possibilidade de Eduardo Leite ser candidato a vice-presidente, como se chegou a cogitar, caso Luciano Huck lidere a chapa?
Eduardo tem tudo para ser o que ele quiser no Brasil. Agora, o que for possível fazer para se chegar a uma união mais ampla nos setores de centro democrático, vale a pena tentar.
Os parlamentares que convocaram Leite veem nele moderação, diálogo e renovação. Mas isso é suficiente para derrotar Bolsonaro em 2022?
Não é só isso. O que faz de Eduardo Leite praticamente uma referência é que ele consegue reunir vários predicados difíceis de reunir em um político só. Tem habilidade para somar, aglutinar, conversar, e ao mesmo tempo é firme nas convicções. Quando ele era prefeito de Pelotas, se posicionou contra a reeleição. Não concorreu mesmo tendo aprovação gigantesca. Além disso, é muito preparado. Foi estudar. Passou por várias instituições. É esse conjunto de virtudes que o credencia.
O senhor vê Leite como um novo Fernando Henrique?
Não digo isso, porque cada um tem seu estilo. Fernando Henrique é um intelectual. Acho que Eduardo vai ter essas características e uma personalidade muito próxima.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, inclusive cita o seu nome como opção na corrida presidencial. É seu desejo concorrer?
O Bruno colocou meu nome por gentileza. Por você ser mais velho, você recebe essas gentilezas. Mas eu vejo no momento essas duas lideranças (Leite e Doria) como as principais colocadas dentro do PSDB.
O país enfrenta a terceira onda da pandemia, com UTIs lotadas, e a vacinação caminha a passos lentos. Como avalia a situação?
É desastrosa. É simplesmente um desastre, com uma gestão perto da criminosa. Não chamo de criminosa porque acho que ninguém quis matar ninguém. Mas tem muita irresponsabilidade fatal até agora, com o Brasil vivendo um momento difícil, faltando leitos de UTI, e a gente vendo o presidente (Jair Bolsonaro) insistindo em se aglomerar, sem máscara, estimulando a propagação do vírus. O que ele fez para desacreditar a vacina também é uma coisa quase criminosa. É um verdadeiro acinte. Isso tem de ser punido um dia, ou politicamente ou até juridicamente.
Doria tem defendido oposição ferrenha ao governo Bolsonaro, mas uma ala do PSDB, que inclui o governador gaúcho, sustenta que não está no DNA do partido fazer oposição sistemática. O senhor concorda com isso?
Concordo com isso, mas acho que nem o governador Doria pensa que a gente tem de fazer oposição sistemática. Fazer oposição sistemática é votar contra por votar contra. A nossa oposição é radical em algumas coisas, como no caso do negacionismo em relação à pandemia, de não acreditar nas vacinas, em distanciamento social. Somos radicalmente contra essa posição. Agora, na política econômica, temos alguns pontos em comum e apoiamos o que consideramos melhor para o país. Mas em relação à maioria das posições de Bolsonaro nós somos contra, como essa inserção desastrosa que ele fez na Petrobras.