Artigo publicado no Jornal O Povo, de 16 de abril de 2016.
Amanhã, seja qual for o resultado da votação, a única mudança imediata será o quadro político. A superação de uma etapa de um processo que há meses paralisa o país. Naquilo que interessa diretamente à população, os problemas que afligem a vida das pessoas, o Brasil permanecerá o mesmo.
Amanhã, ainda haverá milhões de brasileiros em filas nos hospitais e o futuro das crianças continuará comprometido pela má qualidade da educação e a desigualdade de oportunidades. Ainda haverá mais de 10 milhões de desempregados e a carestia continuará afetando o bolso das famílias. Nossas ruas continuarão inseguras e as periferias das cidades continuarão inchando sem um mínimo de infraestrutura.
Para o enfrentamento destes problemas, antes de tudo, é necessário que pacifiquemos o país. O muro que foi construído em frente ao Congresso Nacional, real ou simbolicamente, terá que começar a ser desmontado. Não se pode pensar em termos de vencidos ou vencedores, nem sucumbir aos impulsos daqueles que pregam a divisão do Brasil. Desarmemos os espíritos, contenhamos as paixões pessoais e trabalhemos por um Brasil reconciliado.
Outra providência que o amanhã nos exige é a reforma do Estado. O aparelhamento da última década causou prejuízos ainda inestimáveis à nação. O preenchimento de cargos por critérios políticos, em detrimento da meritocracia e do profissionalismo, além de notório prejuízo à qualidade dos serviços públicos, só alimenta a corrupção.
Nesse particular aspecto, a Operação Lava Jato já mudou o Brasil. A atuação corajosa da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário fez a população brasileira acreditar que, finalmente, ninguém está acima da lei. Esta conquista não pode ter um só passo atrás.
O Brasil de amanhã exige também uma nova forma de pensar e fazer política. As manifestações de rua revelaram que os brasileiros atingiram um novo patamar de cidadania. Mais do que uma reforma, as pessoas clamam por renovação, um sistema que confira mais representatividade aos eleitos e permita o surgimento de novas lideranças.
Que o Brasil de amanhã, portanto, inaugure um novo tempo. Que saibamos retirar lições definitivas desse momento histórico. Que tenhamos a coragem de promover as mudanças, pensando menos em nós mesmos e mais no Brasil. Sob pena de, no Brasil de depois de amanhã, estarmos enfrentando a mesma crise de ontem.
Tasso Jereissati (Senador PSDB-CE)