Há exatamente 30 anos, o hoje senador Tasso Jereissati (PSDB) depositava na urna uma cédula que, unida a quase um milhão e meio de outras, o levaria ao Governo do Ceará pela primeira vez. O momento, lembrado por historiadores como marcante por tirar os coronéis do poder, também representou o nascimento de um dos principais líderes políticos do Estado.
Vencendo o militar Adauto Bezerra, filiado ao PFL, Tasso teve outros dois mandatos à frente do Executivo estadual. De lá para cá, trocou de partido, deixando o PMDB, rompeu com aliados importantes, como os Ferreira Gomes e os ex-governadores Lúcio Alcântara e Gonzaga Mota, que o apoiou naquele 1986.
Valmir Lopes, cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que sua força política era inquestionável e perdura até hoje no modelo de gestão do Estado. “Todos os políticos que surgiram depois de alguma forma são devedores da política criada por ele”.
O governo, centrado no enxugamento da máquina pública e modernização do Ceará, porém, não era tão novo assim, segundo o historiador Airton de Farias. “Era algo diferente, mas ao mesmo tempo o governo do Tasso tem algo não tão novo assim. Esse modelo desenvolvimentista era algo que o Virgílio Távora fez nos anos 60 e que continua até hoje”, explica.
Para o historiador, “no que toca ao modelo fiscal e tributário, o Tasso é inovador”, mas ele não teria representado uma “nova política” durante toda sua trajetória. “Na primeira gestão, sim, mas nenhum poder governa sozinho e ele começa a ter que compor com certos grupos”, afirma.
Valmir discorda. Para ele, “numa situação de ruptura você dificilmente vence sem um apoio das forças tradicionais, mas o apoio dele por essas forças foi pequeno”, o que perduraria até hoje.
Segundo o cientista político, as mudanças que ele trouxe persistem e influenciaram cenário nacional. “Nenhum candidato até hoje teve condição de voltar a períodos tradicionais, nesse sentido ele marcou. A ideia de que era possível reduzir o clientelismo, a máquina estatal, isso persiste”, avalia Valmir.
Derrotas
Em meio à carreira política, Tasso também sofreu derrotas. Uma das mais marcantes aconteceu em 2010, ao apoiar a candidatura do ex-presidente da Assembleia Legislativa Marcos Cals, à época no PSDB, ao governo, além de não conseguir ser eleito ao Senado Federal.
Para o ex-aliado Gonzaga Mota, porém, ele continua sendo um líder importante do Ceará. “Faz parte da vida pública, o político está sujeito a vitórias e derrotas”. A análise é unânime entre os entrevistados, inclusive Lúcio Alcântara (PR), ex-governador que, depois de apoiado por Tasso ao cargo, foi preterido por ele no lugar de Cid Gomes.
“Eu acho que ele traz um momento importante, de renovação política do Estado. Ele realmente foi um marco de modernização dos costumes políticos”, afirma Lúcio.